Não há dúvida de que
Buda é um Instrutor de alta categoria espiritual, cujos ensinamentos extinguem
as ilusões da mente e livram o homem do temor da morte. Ele também procurou
confortar os desanimados, erguer os fracos e consolar os aflitos, pois sua mensagem
tinha algo da "Boa Nova" pregada por Jesus. Jovem e príncipe, Buda
não hesitou em renunciar aos fulgores e prazeres da corte de Kapilavastu, a fim
de procurar a verdade redentora da vida humana. Ele advertiu que "a glória
do mundo é como uma flor esplêndida pela manhã e murcha à tarde".
Sua
alma entristeceu-se diante das desilusões e das dores da existência humana, em
que nada é duradouro e tudo termina aparentemente sob a laje fria da tumba.
Depois de usufruir dos prazeres e do conforto próprios de sua estirpe real, ao
tomar contato com as realidades do mundo além dos muros dourados da sua corte,
ele viu em torno de si o nascimento e a morte, o fausto e a decadência, a vida
e a dissolução da matéria. Em todas as atividades do mundo, Buda verificou o
desejo e a decepção, o medo da dor e o medo da morte, a paixão e a frustração,
o poder efêmero, a juventude fugaz, a velhice acumulada de sonhos desfeitos ou
remorsos crepitantes. As glórias do mundo encerravam-se no subsolo da sepultura
terrena.
Espírito
sadio e de alta estirpe sideral, não se consumiu no pessimismo e na descrença,
nem se abateu diante do enigma triste da vida humana. Sua alma mereceu os
louvores do Senhor, porque pesquisou, descobriu e ensinou que, embora "as
coisas mudem sem cessar, há sempre uma verdade oculta e imutável, que dá
realidade a essas mesmas coisas".
Assim,
a verdade estaria em tudo: na pedra, na planta e no animal, embora
inconscientes. Porém, quanto ao homem, este já se "sente", já
"sabe" da verdade, porque ele tem consciência de ser, de existir e de
pensar. A razão dá-lhe um sentido nítido da vida; tem a consciência do eu;
porém ainda engendra o egoísmo, a injustiça e a iniqüidade até descobrir que,
acima do "eu inferior", forjado no mundo transitório das formas,
existe o Eu Superior, espiritual e eterno, portanto a Verdade. E que, enquanto
tudo é miséria no mundo de "Samsara"(Termo sânscrito, significa literalmente
"ação de vagar";é a transição e a mutação contínuas; a passagem pelos
mundos transitórios, que é o físico, o astral e o próprio mental, causa
fundamental dos renascimentos na matéria e do sofrimento pela ignorância da
verdade da vida espiritual), a Verdade proporciona a paz de espírito depois
que ele vence o erro e "mata" o desejo, alcançando o
"Nirvana"(É o oposto
de Sansara; é um estado perene de consciência desperta, o autoconhecimento que
liberta. Não é um estado de aniquilamento do ser, como a gota d'água se funde
no oceano; porém, um estado de plena consciência espiritual; é a vida do
Espírito liberto das limitações do tempo e do espaço, com o direito de trânsito
livre no Infinito).
Embora
considerando-se a magnitude filosófica de Buda e sua passagem messiânica pela
Terra, Jesus viveu toda sua existência subordinada ao Supremo Ideal de servir a
humanidade sofredora; afora alguns momentos prazenteiros, que teve em sua
infância, passou pela Terra em constante angústia e piedosa aflição por todo o
sofrimento alheio.
Enquanto
os seus precursores ainda manifestavam "desejos" e se envolviam no
"Maya", ou na ilusão de alguns prazeres da vida humana, Jesus foi
absolutamente imune a qualquer apelo ou tentação da matéria. Eles só se devotaram ao messianismo da redenção e do
esclarecimento do homem terreno, depois de experimentarem as seduções da vida
carnal.
Porém,
o filho de Maria e José, desde o berço até à cruz, viveu na mais completa
pobreza e entregue exclusivamente à tarefa de liberar os terrícolas das algemas
do pecado. Buda e outros iluminados instrutores espirituais do Oriente saíram
em busca da Verdade, depois de algumas desilusões da vida do mundo e quase
preocupados com uma solução pessoal.
Jesus,
no entanto, desde sua infância viveu indiferente à sua própria felicidade, pois
os seus sonhos e ideais só objetivaram a ventura alheia. Jamais ele procurou
solver os mistérios da vida humana para contentar sua própria ansiedade. Todas
as suas iniciativas visavam ao bem do próximo. Não era um filósofo aconselhando
diretrizes extemporâneas, nem legislador enfileirando leis e punições para a
atarantada humanidade, mas sim o companheiro, amigo fiel e generoso, que vivia
minuto a minuto aquilo que ensinava e oferecia a própria vida em favor dos
humildes e desgraçados. Considerava a humanidade a sua própria família.
Moisés
desposa a filha de um sacerdote mediasita e vive até 120 anos usufruindo os
bens da vida humana. Zoroastro alcança honrarias na Terra e casa-se três vezes.
Confúcio casa-se aos 19 anos, torna-se Ministro da China e desencarna aos 73
anos de idade, após alternativas de glória e de honras políticas. Finalmente, o
próprio Buda, educado entre os prazeres e os fulgores da corte de Kapilavastu,
casa-se com a bela prima Yosadara . Deixa o lar aos 29 anos e depois de longas
meditações encontra a Verdade espiritual aos 35 anos, sob uma árvore de bô.
Entretanto, Jesus, nascido em paupérrimo lar operário e participando de árduo
serviço doméstico, sem a possibilidade de cultura que muitos precursores haviam
recebido nos palácios afortunados, sente essa mesma Verdade Espiritual desde a
infância, vive-a integralmente até o sacrifício na cruz.
Embora
oriundo de altas esferas angélicas, nem por isso o instinto natural do sexo
humano deixou de acicatar o corpo jovem de Jesus, assim como a planta selvagem
insiste e tenta dominar, com sua força agressiva, o enxerto da muda superior.
No entanto, ele matou o desejo carnal e venceu o próprio "Maya", a
Ilusão da vida humana, que Buda só fez aos vinte e nove anos, depois de
desiludido dos prazeres do mundo e impressionado pelas chagas e mazelas do seu
povo. Jesus, no entanto, foi casto durante toda sua vida, pois viveu uma só
emoção, acalentou um só pensamento e teve um só desejo; a felicidade do
próximo! Buda, embora fosse também um excelso e genial instrutor espiritual,
primeiramente contentou os desejos do corpo e os bens do mundo. O seu
messianismo, na verdade, iniciou-se depois da saturação dos seus sentidos
físicos. Jesus, no entanto, subordinou toda sua existência ao ideal incessante
de promover a felicidade dos homens. Sem dúvida, não houve desdouro para Buda,
pelo fato de ter casado e procriado e só sentir-se desperto pelo fogo sagrado
da vida espiritual depois que conheceu as dores e as ilusões da vida humana. No
entanto, ninguém jamais foi tão heróico, puro e honesto na doação de sua vida
ao próximo, como fez Jesus.
Os
iluminados que antecederam Jesus quase sempre foram de aspectos vigorosos e
tipo bem nutridos, que pregaram a sabedoria com certo otimismo espiritual, sem
muitas hostilizações do meio e dos homens, ao passo que o Mestre Galileu
atravessou sua época qual junco batido pelos ventos gélidos das ingratidões
humanas. Ele era um perfil delicado, tipo de anjo semifebril e angustiado no
exílio terreno, a refletir em seu olhar as dores do mundo, a ignorância, a
hipocrisia e a maldade dos homens. Diz a biografia de Buda que ele caiu em
meditação e expirou tranqüilamente, depois de ter dito: "A destruição é
inerente ao todo composto; porém a Verdade durará sempiternamente. Trabalhai
com afinco por vossa libertação!"Jesus, no entanto, expirou na cruz, entre
dores e sofrimentos acerbos, mas reunindo suas forças derradeiras e malgrado
ser a vítima inocente da maldade humana no arremate de uma existência de
incondicional amor aos homens, expressou-se assim:"Pai! Perdoai-lhes,
porque eles não sabem o que fazem!"
Em
verdade, ele carregou nos ombros o fardo das mazelas humanas, enquanto a
maioria dos gênios, sábios e santos tecia suas mensagens libertadoras no
silêncio amigo do lar, no refúgio da Natureza ou no ambiente inspirativo dos
conventos e das instituições fraternistas. Jesus gravou suas idéias e
pensamentos ao vivo, dia a dia, minuto a minuto, sob o sol ardente, sob a chuva
copiosa ou na terra escaldante; junto aos mendigos, prostitutas e publicanos;
entre os leprosos, chagados e loucos. Os pobres, os miseráveis e os desesperançados
foram a argamassa de sua edificação espiritual.
Indiscutivelmente,
o Mestre Jesus foi o Espírito de maior quilate jamais pousado na Terra, pois
desde o seu nascer até morrer, ele viveu exclusivamente a idéia crística,
representativa da Verdade e da Vontade do Pai.
Jesus,
tendo sido o sintetizador do ensino desses precursores, não veio, pois, criar
coisas novas ou destruir coisas velhas, mas simplesmente consolidar o velho e
puro ensinamento sempre latente na tradição religiosa dos templos. No próprio
Sermão da Montanha ele o confirma, lembrando que não viera destruir os
profetas, mas confirmar o que eles haviam dito. Isto quer dizer que seus
ensinamentos devem ser aceitos incondicionalmente, despidos de vícios, de
distorções, de dogmas, de prescrições ou de liturgias, pois representam uma
libertação completa do modo de pensar e de viver.
É
óbvio que tudo o que já haviam dito Manu, Antúlio, Numu, Orfeu, Hermes, Rama,
Zoroastro, Krishna, Buda, FoHi, Lao-Tse, Confúcio, Moisés, Pitágoras, Platão,
Sócrates ou Maomé, ele o fez protestando veemente contra os aparatos
cerimoniais e o exaustivo simbolismo, que sufocam a beleza pura do ensno doado
pelo Alto. Seu olhar espraiou-se pelo mundo e mergulhou no passado,
verificando, com tristeza, que a sementeira generosa do ensinamento divino era
sempre asfixiada pelos homens com o luxo nababesco dos santuários faustoseos e
dos sacerdotes que viviam da idolatria de todos os tempos. O seu Evangelho está
implicitamente exemplificado no seu modo de amar e de viver. Aquele contínuo
silêncio e o seu estoicismo ante a inutilidade de reagir contra a estupidez
humana falam-nos com mais força do que a multiplicidade de palavras
sentenciosas que lhe quiseram atribuir, copiando-as da boca de outros iniciados
menores. A força eterna de Jesus - já o dissemos - situa-se fundamentalmente na
sua incondicional proteção à pobreza, à desgraça, à infelicidade humana. Basta
isso para reavivar-lhe novamente a beleza crística, pois o mundo desgraçado de
hoje já compreendeu que só o Amor de Jesus o salvará!
Livro Sublime Peregrino - Ramatís
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